Não mintam uns aos outros, visto que vocês já se despiram do velho homem com suas práticas e se revestiram do novo, o qual está sendo renovado em conhecimento, à imagem do seu Criador.
Colossenses 3.9-10
A mentira tem sido, ao longo dos anos na vida humana (se necessidade de fazer uma análise detalhada aqui disso, basta ser um “lembrador” da história ao longo dos séculos e décadas) uma das principais fontes pecaminosas e que desgraçam a vida de quem as usa, declara que o mentiroso não crê em Deus e que isso não importa mais para ele, levando-o, logicamente, para uma vida de hipocrisia que é a situação/palavra irmã da mentira.
No grego há algumas coisas interessantes para se pensar em relação a MENTIRA, principalmente no contexto bíblico do Novo Testamento.
Há dois grupos para a palavra “mentira”, que é a antítese de se contar a verdade e são:
1) ‘hypokrino’ que tem sua orgiem num mundo da “não realidade” do teatro. Dizia-se (no sentido positivo) que o ator que respondia corretamente ao diálogo, sua exposição e interpretação dentro da peça de maneira positiva, mas de maneira negativa era aquele que não se identificava com o papel que assumia. Desta referência é que surgem os significados de “representar”, “disfarce” e depois também da própria palavra “hipocrisia”. Assumir um papel e identificar-se com ele, dando-lhe uma interpretação teatral convicente era considerado “hypocrino”, mas de maneira positiva. O contrário, aquele ator que era um charlatão e que não interpretava coerentemente e corretamente seu papel passava uma história “mentirosa” ao público.
Nós representamos nossos papéis em sociedade, em família, com amigos, conhecidos e desconhecidos. A maneira como “representamos” estes papéis que assumimos – seja de pai, filho, marido, namorado, amigo, pastor ou mesmo um desconhecido comercial deve ser “hypocrino” no sentido positivo, ou seja, assumirmos estes papéis e os interpretarmos fielmente.
Em nosso tempo e contexto, porém, a palavra assume somente seu valor negativo e tudo que é “hypocrino” é falso, fingimento, dissimulação … perdemos o sentido positivo da palvra, talvez com a quantidade de más interpretações que temos do dia a dia da vida entre nós.
Ao narrar os diálogos de Jesus os evangelistas usaram esta palavra – “hypocrisis” – como resposta àqueles que procuravam através de dissimulação prendê-lo com perguntas astutas e fingidas.
2) por outro lado tem a palavra “pseudomai” ou “pseudo” que mostram a justa oposição com a verdade (“aletheia”). No Antigo Testamento essa palavra (“pseudomai”) foi usada para traduzir a palavra “kahas” que é “negar”, “repudiar”, “agir secretamente”, “enganar” ou “mentir”.
A raiz “pseud-” significa “falso”, como usamos no português em diversas palavras que estão compostas.
Em Efésios e Colossenses temos várias asseverações sobre mentira. Trata-se, diferentemente dos outros textos da Bíblia, de admoestações individuais ou visando mais o dia a dia da vida do cristão nestes contextos. Lançar fora a falsidade (negativo) e de falarem a verdade uns com os outros (positivo) parece ser um tema recorrente ali. Paulo argumenta que isso pode ser feito porque fomos feitos “nova humanidade” (nova criação ou criatura) e que o poder do revestimento da vida de Cristo em nós nos dá condições de cessar de mentir.
Acho interessante esta conclusão de Paulo, pois pressupões que todo mundo é em si mesmo um “interprete” da sua própria vida e que muitas situações vem sobre nós e nos levam a mentir, não falar a verdade, a ser falsos ou inadequados. Ele pensa e a Bíblia assim dá realmente a entender que o fato de termos uma nova vida e o Espírito Santo habitando em nós é uma habilidade possível o deixar de viver assim, em mentiras, em falsidades e falar a verdade (em amor) a todos e em todos os nossos relacionamentos.
Além da mentira, no sentido mais direto, há também as dissimulações e também a falta de assertividade tão propalada em nossa época que pode também vir a ser uma omissão mentirosa, deixando passar para o outro situações ou palavras ou vontades ou não contentamento e tornando-se uma mentira completa.
Ser verdadeiro parece ser a única opção ética e moral na vida cristã. Não há nada mais que possamos fazer ou pensar em relação a isso que seja uma desculpa aceitável – falar a verdade não é apenas uma opção para nós, mas deve ser colocada como nosso estilo de vida, juntamente com tantas outras situações.
Pensar em falar a verdade as vezes nos remete para “mentiras clássicas” de traição ou mesmo de escondimento de coisas que fazemos, mas existem algumas coisas não tão “clássicas” que passam despercebidos de nós e que se consistem em verdadeiras vidas de mentira, principalmente quando assumimos para outros, ou para nós e até mesmo para Deus sermos quem não somos e falamos disso de maneira a entender e “crer” que estamos dizendo a verdade.
Ser verdadeiro deve ser uma prática sim, mas antes de mais nada devemos ser HONESTOS conosco não prevaricando em dizer a nós mesmos o que podemos ou não podemos, o que devemos ou não podemos assumir e ser. Antes das práticas da mentira seguem-se as atitudes de uma vida que é levada de qualquer jeito, rejeitando os princípios que todas as coisas que fazemos, pensamos ou sentimos deve ser submetida ao crivo da Glória do nome de Deus.
Este estudo está baseado no Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento (DITNT) e na conclusão há algo que queri transcrever: “A mentira não é meramente um ato único: é uma atitude de existência que determina a totalidade da vida. A mentira, por causa de resistir Àquele que dá a vida, é a cúmplice traiçoeira da morte. Semelhante existência dentro da “mentira” manifesta-se em mentiras individuais que revelam quem está controlando os homens (seres humanos)”.
Que Deus nos faça verdadeiros, não só “adoradores”, mas sobre tudo verdadeiros seres humanos que reconhecem suas falhas e caminham na direção de acertar das próximas vezes.