Vejo sempre, tanto no Face como em outras redes sociais que nesta época do ano muitos desejam alegria, contentamento, um ano novo melhor que o que está passando; entendo como legítimos este desejo e também gostaria muito de viver assim.
As situações as vezes parecem que tendem a mascarar certas coisas em nós e deixar tudo meio escondidinho. Nesta época, ao invés de apenas desejar um feliz ano novo pra todos, quero trazer a tona coisas difíceis que com certeza, não bem tratadas ou controladas trarão sobre nosso ano novo velhas situações que o farão ser ainda pior que o antigo.
Paulo, o apóstolo, sempre me inspirou muito, porque ele vive e fala dele mesmo como que entendendo a dificuldade em conviver com aquilo que é o seu ideal e a realidade que enxerga em si e ao seu redor. Ele não poupa palavras tanto pra si como para outros, porque, afinal, ele quer o bem, deseja o bem, mas sabe que nós estamos repartidos, somos pessoas que convivem com o bem e o mal dentro do mesmo corpo, da mesma alma, da mesma mente e do mesmo coração.
Há um monstro vivendo dentro de mim … existem momentos que é difícil conviver com ele sem deixar que ele domine.
Não adiantam fórmulas mágias, dizeres espetaculres, determinações eufóricas.. o monstro continua lá, a espreita, esperando apenas o momento certo para sair e dominar tudo dentro de nós e estragar tudo o que está em nossa volta.
Em Romanos 7, um de meus textos prediletos, Paulo diz no versículo 15: “Eu não entendo o que faço, pois não faço o que gostaria de fazer. Pelo contrário, faço justamente aquilo que odeio”. Ele entende e sabe que existe uma luta, um lobo, um monstro, que o força a fazer justamente aquilo que ele não gostaria de fazer. Conviver com esse lobo é uma das tarefas mais difíceis colocadas para qualquer ser humano.
No versículo 19 ele repete a frase, dando a entender que isso é algo pra ele muito forte: “Pois não faço o bem que quero, mas justamente o mal que não quero fazer é que eu faço”. O lobo está lá, dentro de cada um de nós.
Não entenda aqui como apenas coisas PECAMINOSAS, pois esse lobo é um parasita que vive dentro de mim e de você e que quer muitas vezes a execução da justiça, quer se inflamar para ver acontecer algo diferente, para mudar as situações , mas o faz com a própria força, do seu próprio jeito e isso SEMPRE dá errado. Lembro-me de outro texto, onde Moisés, recebendo um pedido do povo por água e a ordem de Deus para “FALAR” (dar uma ordem à um componente da natureza realizando o milagre através do poder de Deus que operava nele) com a rocha deixa o monstro subir à tona e pega a sua vara, irado e bate na rocha, ferindo aquela que deveria apenas obedecer ao poder de Deus. Esse evento lhe tira a paz, lhe tira a promessa, lhe tira tudo o que pela frente ele veria acontecer, pois nesse evento Deus mostra a consequência de viver de acordo com a vontade de sua “carne” e o faz subir ao monte, mostra a terra da promessa e diz que ele não deverá entrar nela, pois ele não glorificou a Deus, mas tomou sobre si a resolução do problema colocando-se no lugar de Deus. Parece que Paulo e Moisés sofriam do mesmo mal que eu sofro, de querer ver as coisas acontecerem , de realizar de si mesmo aquilo que já é PLANO DE DEUS em minha vida e na vida daqueles que estão ao meu redor. Minha ira “santa” não é nada santa, mas é manifestação do monstro que reside dentro de mim e que tenho visto todo dia, não adiantar negar isso, somos assim.
No versículo 22 (retomando Romanos 7) Paulo diz: “Dentro de mim eu sei que gosto da lei de Deus”. Sabemos que queremos a vontade de Deus; sabemos que gostamos dos caminhos do Senhor; sabemos que os caminhos do Senhor são diametralmente melhores que os nossos; sabemos … queremos … gostamos … Na versão NVI diz: “No íntimo do meu ser tenho prazer na Lei de Deus”. Nossa intimidade é bi-partida; temos sim prazer na Lei de Deus, na sua vontade, no seu desejo, ao mesmo tempo em que esse lobo insiste em ir para o outro lado, querendo estragar a festa, a vida, as decisões .
A conclusão que Paulo chega é na sua primeira parte terrível. Veja comigo no versículo 24: “Como sou infeliz! Quem me livrará deste corpo que me leva para a morte?”
Realmente é um grito, um brado terrível ao se ver como ele o vê, como eu me vejo, convivendo com um lobo voraz que teima em sair, em estragar tudo ao meu redor . A luta é renhida, a vitória parece ser impossível, a única certeza é a dor, a morte, o estrago – Paulo se sente assim, eu me sinto assim, essa é nossa realidade, nua e crua e correr dela apenas levará a batalha para outras áreas da vida, “determinar” que ela não existe é burrice, esconder no mais fundo apenas fará com que tudo piore – é preciso encarar de frente e clamar como o apóstolo fez.
No versículo 25 ele mostra que a solução para o que está dentro de si mesmo está fora de si mesmo: “Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor!”
É a certeza que ele precisa, que eu preciso – saber que Jesus é o NOSSO SENHOR e que pode e quer cuidar desse lobo voraz que teima em devorar nossas almas. Ele já morreu na cruz para nos perdoar, para nos abrir o caminho de um relacionamento íntimo com Deus e quer, ao longo de nossa vida, nos ajudar a cuidar destas cargas que são pesadas demais para todos nós. Ele conviveu em carne e sabe que esse monstro é difícil de dominar, sabe que não temos forças, que somos fracos e absolutamente incapazes de ganhar esta guerra, por isso vem para viver em nós, ao nosso redor, guiando nossos passos, nos revestindo com o seu poder, o poder de um amor que supera, que perdoa, que sacrifica-se que se dá, que entrega, que não retribui com dano, um amor semelhante a esse é tudo o que almejo viver , por isso persigo de perto esta vida de Cristo em mim!
Paulo não quer nos deixar com o peso da morte e da derrota, pois ele sabe que, apesar do monstro ser forte e termos que aprender a conviver com ele todos os dias o problema já foi resolvido por Jesus e ele mesmo afirma no capítulo 8 de Romanos, versículo 1: “nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”. Enganamos a nós mesmos se pensarmos que o fato de não sermos mais condenados nos dá o privilégio de viver sem o lobo tentando dominar.
Residente em nós, o mal convive com o bem e ao alimentarmos um ou outro eles dominarão nossa vida. Cristo é nosso alimento necessário para conviver com estes dias difíceis de silêncio, decisões, necessidades, faltas, desejos, projeções.
Queremos projetar um ano mais abençoado que o que passou? Não basta apenas desejar isso a si a aos outros: é preciso tomar atitudes, não apenas na “virada” como uma promessa milagrosa ou retumbante – é preciso tomar atitudes hoje, amanhã, depois, depois, cada dia, cada situação, olhar de perto, saber caminhar, ouvir a Cristo e saber que nele teremos vitória finalmente, pois dele são os planos de amor, de paz, de mansidão, de domínio próprio, do querer fazer o bem, dos sacrifícios necessários.
Desejo que o novo ano seja um ano assim: um ano consciente e não apenas figurativo; um ano em que conseguiremos entender e fazer aquilo para o qual fomos chamados a fazer; um ano em que o bem vença mais que o mal residente; um ano em que o Senhor se mostra através de nossas ações e que tudo o que façamos, o façamos conscientes, sabedores de que estamos na luta, mas a vitória já foi alcançada por nós na cruz de Cristo!
Estou vivendo já a esperança.