Porque a EAD (Educação a distância ou ensino a distância) cresce tanto?
Essa seria uma pergunta fácil de responder se o objetivo fosse o reducionismo.
Em estatísticas de fevereiro/22 vimos o seguinte:
𝙳𝚘𝚜 𝚖𝚊𝚒𝚜 𝚍𝚎 𝟹,𝟽 𝚖𝚒𝚕𝚑𝚘̃𝚎𝚜 𝚍𝚎 𝚒𝚗𝚐𝚛𝚎𝚜𝚜𝚊𝚗𝚝𝚎𝚜 𝚍𝚎 𝟸𝟶𝟸𝟶 (𝚒𝚗𝚜𝚝𝚒𝚝𝚞𝚒𝚌̧𝚘̃𝚎𝚜 𝚙𝚞́𝚋𝚕𝚒𝚌𝚊𝚜 𝚎 𝚙𝚛𝚒𝚟𝚊𝚍𝚊𝚜), 𝚖𝚊𝚒𝚜 𝚍𝚎 𝟸 𝚖𝚒𝚕𝚑𝚘̃𝚎𝚜 (𝟻𝟹,𝟺%) 𝚘𝚙𝚝𝚊𝚛𝚊𝚖 𝚙𝚘𝚛 𝚌𝚞𝚛𝚜𝚘𝚜 𝚊 𝚍𝚒𝚜𝚝𝚊̂𝚗𝚌𝚒𝚊 𝚎 𝟷,𝟽 𝚖𝚒𝚕𝚑𝚊̃𝚘 (𝟺𝟼,𝟼%), 𝚙𝚎𝚕𝚘𝚜 𝚙𝚛𝚎𝚜𝚎𝚗𝚌𝚒𝚊𝚒𝚜. 𝙽𝚘𝚜 𝚞́𝚕𝚝𝚒𝚖𝚘𝚜 𝟷𝟶 𝚊𝚗𝚘𝚜, 𝚘 𝚗𝚞́𝚖𝚎𝚛𝚘 𝚍𝚎 𝚖𝚊𝚝𝚛𝚒́𝚌𝚞𝚕𝚊𝚜 𝚎𝚖 𝚌𝚞𝚛𝚜𝚘𝚜 𝚙𝚛𝚎𝚜𝚎𝚗𝚌𝚒𝚊𝚒𝚜 𝚍𝚒𝚖𝚒𝚗𝚞𝚒𝚞 𝟷𝟹,𝟿%, 𝚎𝚗𝚚𝚞𝚊𝚗𝚝𝚘 𝚗𝚘𝚜 𝚌𝚞𝚛𝚜𝚘𝚜 𝙴𝙰𝙳 𝚊𝚞𝚖𝚎𝚗𝚝𝚘𝚞 𝟺𝟸𝟾,𝟸%
(Fonte: Dados do Censo da Educação Superior 2020).
O “fenômeno” havia sido registrado antes na rede privada, mas o censo engloba tudo, ou seja, esse crescimento também é na rede pública de ensino.
Não é somente um crescimento da EAD, mas uma diminuição da modalidade presencial (13,9% em 10 anos).
Em 2010 a participação de alunos EAD no número total de matriculados no país era de 17,4%, esse ano registra-se um total de 53,4%. Um número expressivo.
Alguns argumentam que o crescimento se deu devido à pandemia de COVID-19, mas o crescimento vem de antes de ouvirmos falar dela.
A EAD no Brasil (em que se pese a diferença entre o que se faz hoje e o que se fazia no passado) iniciou em 1939, com o Instituto Monitor e em 1946 com o Instituto Universal Brasileiro, ambos optaram por metodologias relacionadas a envio de correspondências (Correios).
Muita coisa (ainda bem) mudou de lá pra cá e isso é bom, mas existem muitos desafios a conquistar ainda nesse campo.
Em 2002, falando a professores e interessados em EAD eu “profetizei” esse tempo em que a EAD seria maior que o presencial e que faria uma mudança drástica em nossa maneira de aprender e ensinar. Muitos riram na época. Bem, nada como um dia após o outro para nos ensinar que as coisas mudam.
Alguns desafios:
– ᴍᴜᴅᴀɴᴄ̧ᴀ ɴᴀ ᴍᴀɴᴇɪʀᴀ ᴅᴇ ᴘᴇɴsᴀʀ (o que é positivo, mas que tem um peso enorme na elaboração e execução dos currículos). Não é fácil saber que o/a aluno/a é o condutor de sua própria jornada, “jogando” o professor/tutor como apenas um guia na jornada. É uma mudança de paradigma que muitos ainda resistem. O foco deve ser no estudante.
– ᴜᴛɪʟɪᴢᴀᴄ̧ᴀ̃ᴏ ᴅᴇ ɴᴏᴠᴏs ᴍᴇɪᴏs ᴅɪɢɪᴛᴀɪs – em uma época como a nossa apenas 20% da população tem acesso a uma internet de qualidade. É muito pouco. Mesmo entre os 20% muitos ainda não manejam bem as ferramentas digitais e se perdem na sua utilização.
– ɪɴᴠᴇsᴛɪᴍᴇɴᴛᴏ ᴇᴍ ᴘᴇsᴏ̨ᴜɪsᴀ – esse é um grande desafio. Falta muito no país para termos um bom investimento em pesquisas educacionais. O que mais fazemos é “copiar” modelos já prontos. É preciso contextualização e para isso temos que desenvolver nossas pesquisas e falta muito investimento para isso.
– ᴄᴀᴘᴀᴄɪᴛᴀᴄ̧ᴀ̃ᴏ ᴅᴇ ᴘʀᴏғɪssɪᴏɴᴀɪs – mesmo que tenhamos evoluído bastante, muito do que temos hoje ainda é oriundo do meio tradicional de ensino, numa nova roupagem, apenas mudando algumas coisas para adaptação, pois os profissionais envolvidos não são capacitados (de forma geral) para a EAD e isso se faz sentir na maneira como ministramos nossas aulas, mais como um presencial conectado do que EAD mesmo.
– ᴏ̨ᴜᴀʟɪᴅᴀᴅᴇ – ouvi há muito tempo atrás que a EAD era ensino de qualidade inferior ao ensino presencial. Eu confesso que na época sorri internamente ao ouvir isso, pois sabia que quem falava não conhecia o tema de forma profunda. Hoje, mais do que ontem, é preciso investir na qualidade do ensino a distância. Não para provar nada, mas porque a maioria de nossos alunos e alunas estão nessa modalidade e eles precisam e merecem nossa qualidade.
– ᴇᴠᴀsᴀ̃ᴏ – esse é talvez um dos maiores obstáculos ao ensino a distância no país. É preciso investir em tudo isso que falei (e muito mais, principalmente numa EAD relacional, que foque não somente na metodologia, mas sobretudo no egresso, pois é ele ou ela que fará a educação demonstrar qualidade ou não).
Fica este texto para pensarmos um pouco mais em tudo isso.
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