Há uma crise na identidade masculina e sobre isso muita gente tem falado coisas as mais variadas possíveis.
Eu poderia ser apenas genérico sobre isso e falar que há uma crise de identidade humana, o que também não está errado, mas quero especificamente falar do homem, do macho, do masculino.
Essa crise que vivenciamos hoje se deve a muitos fatores culturais, sociais, familiares, espirituais etc., mas é um fato que, homens, vivem 7,2 anos MENOS que as mulheres e não estamos falando apenas de tempos de guerra, mas de cuidado da saúde. As grandes causas de morte de homens são a violência, acidentes, doenças cardiovasculares, doenças respiratórias, câncer e infartos.
Dentre as variáveis da crise, quero destacar esse aspecto difícil que é a saúde mental.
Cuidar da saúde não parece ser uma tarefa que o homem gosta de fazer. Falo por mim, o quanto puder “adiar” … e é aí que reside realmente o problema.
Quando olhamos para a saúde mental a “coisa” fica feia. Por exemplo:
“Dados do Ministério da Saúde apontam que a taxa de mortalidade por suicídio entre homens é de 9,2 para cada 100 mil. Este índice é quase quatro vezes maior do que o registrado entre mulheres. Não encarar a depressão como uma doença é um dos fatores que os impede de buscar tratamento adequado” (‘Por que precisamos falar sobre a saúde mental dos homens’- Ecomax).
Essa crise sempre esteve aí, quando o homem ‘despreza’ as doenças mentais porque encara isso como fraqueza.
“Trata-se de um problema cultural com raízes profundas. Ao mesmo tempo em que o homem moderno enfrenta cobranças relacionadas a emprego, carreira e estabilidade familiar, por exemplo, ainda existe uma ideia de que, além de tudo isso, eles devem se manter inabaláveis e não precisam entrar em contato com suas emoções” (Ibidem).
É preciso ficar em silêncio, sofrer em silencio, engolir o choro, deixar de demonstrar emoções pois isso é coisa de “mulher”, é coisa que pode me deixar com aparência de enfraquecido. Esse pensamento recorrente acaba por “trazer para dentro da vida do homem” mais doenças, pois ao “engolir” estas emoções elas se transformam em outra coisa e, geralmente, não são coisas boas.
A saúde mental pode também ser um grande incentivo para a diminuição da violência em que homens se envolvem – seja entre si, no trânsito, na família etc.
É certamente notável e perceptível que o índice de feminicídio tem aumentado nos últimos tempos – talvez porque há mais divulgação (quem sabe…), talvez porque estão acontecendo mais, talvez porque há mais denúncias, mas o fato é que eles ocorrem e não somente estes, mas abusos e violências de todo tipo: psicológicas, obstétricas, físicas, parentais, econômicas e financeiras, profissionais etc.
Eva Alterman Blay diz no seu artigo “Por uma nova masculinidade. Por que os homens continuam a matar as mulheres?”:
“É quase senso comum repetir que os homens são educados para serem fortes, não expressarem seus sentimentos, não chorarem. Esse modelo patriarcal que percorre o mundo todo, na América Latina e no Brasil se fortaleceu nos quatrocentos anos do regime escravocrata em que homens brancos, grandes proprietários, tinham poder de vida e morte sobre a população negra escravizada. Esse poder se estendia também sobre as mulheres e homens não negros e sobre todas as minorias desprovidas de bens. Quem melhor expressou a culminância desse poder foi Achille Mbembe, que, em seu livro Necropolítica, afirma: “A expressão máxima da soberania reside, em grande medida, no poder e na capacidade de ditar quem pode viver e quem deve morrer. Por isso, matar ou deixar viver constituem os limites da soberania, seus atributos fundamentais. Ser soberano é exercer controle sobre a mortalidade e definir a vida como a implantação e manifestação de poder”. Ou seja: quem tem direito à vida, à morte, ao corpo humano? Qual a relação deles com o poder?”
Voltemos a pergunta inicial, que não deverá ser respondida, mas fica para meditação e aprofundamento do tema:
Afinal, para que serve o homem?
Fomos criados como imagem e semelhança de Deus, o pecado, a queda, a desgraça toda que veio a partir disso, jogou essa imagem na lama e nos fez ser aquilo que Deus nunca quis que fôssemos: corrompidos de corpo e alma. Tudo o que tocamos acaba corrompido. O ser humano está corrompido e corrompe tudo o que vive, toca. As melhores coisas da vida estão manchadas com o sangue da corrupção do pecado que tenazmente nos assedia.
Fomos criados para a glória (de Deus) e para ser (o ser humano) a coroa da criação. Fomos alvos do amor de Deus (em Cristo e em tudo mais).
Tudo o que temos é uma dádiva – a vida, o ar, a terra, o sustento etc. Tudo.
Há em mim, falo como homem, masculino, uma urgência e essa pressa esteve sempre comigo: quero ver mais e mais homens se juntando em um movimento tipicamente masculino, mas totalmente diferente dos resultados machistas, sexistas, misóginos ou preconceituosos que estamos tão “acostumados” a presenciar.
Quero ver homens sendo machos de verdade e falando sobre suas dores. Mostrando sua visão sensível do mundo e chorando como Jesus. Quero ver homens que se mostram, que não se escondem por trás de chavões; homens que não tem medo de serem frágeis (porque somos frágeis porque somos humanos, falhos, pecadores); homens que não queiram impor sua vontade, mas compartilhar seus pensamentos; homens que não abusem, nem usem, nem dilapidem, nem humilhem, mas que se contenham, que olhem para si mesmo, estejam dispostos a mudar, a aprofundar seus sentimentos e fazer brotar o que é de verdade.
Quero ver homens se doando para que outros cresçam.
Quero ver homens sendo homens de verdade, não machistas, racistas, sexistas, misóginos ou preconceituosos.
Você pode falar que estou sendo simplista, que existe muito mais nessa gama que estou chamando de homem (e tenho a tendência a concordar que estou mesmo sendo simples e até mesmo ingênuo), mas é um ideal e tento persegui-lo, por achar que ainda podemos participar da transformação de pessoas e que isso é um chamado Divino para nós como Igreja – participarmos com ele da transformação e reconciliação de todas as coisas.
Vamos juntos?!