Essa narrativa traz sobre nós várias lições, dentre elas de como devemos tratar o relacionamento com Deus.
Caim era para Eva o descendente (‘a promessa’) que viria para esmagar a cabeça da serpente – do hebraico pode-se traduzir melhor a última frase da seguinte forma: “Obtive um homem, oh Jeová” (Gênesis 4:1b), que sugere percepção de Eva ao dar a luz ao seu primogênito homem, que este seria já aquele que os redimiria do mal.
Caim então nasce sobre a égide de ser o libertador.
Com certeza Adão, seu pai, lhe contara tudo o que ocorreu e também lhe ensinara o que Deus queria – a vontade de Deus, principalmente mostrando para Caim a necessidade de uma vítima que ofereça uma cobertura (propiciação – hebraico caphar) capaz de promover a reconciliação do homem com Deus – assim como Deus derramou sangue ao fazer vestimentas de peles para cobrir a nudez de Adão e Eva (Gênesis 3:21).
Mesmo sendo a expectativa de sua mãe Eva por redenção, Caim, por si mesmo, resolve fazer do seu jeito a vontade de Deus. Ele traz para Deus não o sacrifício que o Senhor mesmo já demonstrara que o agradaria, mas traz frutos da terra – frutas, legumes, etc (Gênesis 4:3).
Abel, ao contrário, continua o que foi estabelecido através do que seus pais lhe ensinaram e traz sacrifício ao Senhor de animal limpo, além do que faz mais – traz das suas PRIMÍCIAS, ou seja, do melhor, tira primeiro para o Senhor.
O princípio de Deus havia sido quebrado, que é: “… sem derramamento de sangue, não há remissão” (Hebreus 9:22b) e portanto, Caim não poderia ser aceito, nem Deus aceitaria a sua desculpa de não saber o que fazer, posto que até mesmo seu irmão mais novo sabia e trouxe segundo a vontade de Deus.
Não está em voga aqui o fato de Caim ter sua oferta rejeitada porque era inferior a de Abel, mas sim, porque ele queria ofertar ao Senhor, mas não do jeito de Deus e sim do seu jeito. Caim queria fazer a vontade de Deus do jeito de Caim.
Em relacionamentos, quaisquer que sejam eles, incorremos nesse risco de querer moldar as situações à nossa vontade; não nos atentamos que para outros aquelas coisas construídas daquele jeito são importante e damos pouca importância aos fatos. Construir um relacionamento entre Deus e Caim demandava isso: Deus olhando para as necessidades de Caim e as suprindo e Caim, por sua vez, olhando para a vontade de Deus fazendo tudo para o suprir e agradar.
Caim não estava fazendo coisas erradas (‘pecados’), mas da sua atitude de querer agradar a si mesmo brotou algo que traria arrependimento para ele pelo resto dos seus dias: sua ira e displicência no relacionamento, não valorização do outro, narcisismo (tantas coisas podem ser colocadas aqui) o levaram a matar seu irmão.
Podemos aprender com isso?