“Veio sobre mim a mão do SENHOR; ele me levou pelo Espírito do SENHOR e me deixou no meio de um vale que estava cheio de ossos, e me fez andar ao redor deles; eram mui numerosos na superfície do vale e estavam sequíssimos. Então, me perguntou: Filho do homem, acaso, poderão reviver estes ossos? Respondi: SENHOR Deus, tu o sabes. Disse-me ele: Profetiza a estes ossos e dize-lhes: Ossos secos, ouvi a palavra do SENHOR. Assim diz o SENHOR Deus a estes ossos: Eis que farei entrar o espírito em vós, e vivereis. Porei tendões sobre vós, farei crescer carne sobre vós, sobre vós estenderei pele e porei em vós o espírito, e vivereis. E sabereis que eu sou o SENHOR”
Ezequiel era um sacerdote (1.3) e estava exilado junto com seu povo em Babilônia a mais de 1000 quilômetros de Jersusalém quando foi chamado por Deus para profetizar. É o único livro profético em estilo autobiográfico. É escrito na primeira pessoa retratando a visão do profeta.
Vejamos alguns detalhes do texto:
v.1 – A Ezequiel é mostrado um vale de ossos secos …cheio de ossos – não havia apenas um montão de ossos, mas o vale estava repleto de ossos.
v.2 – … estavam sequíssimos – isso indica que aqueles ossos já estavam ali faz um tempo, para estarem sequíssimos.
v.3 – Deus entra em diálogo com Ezequiel – Deus sempre está a busca de dialogar com o homem, desde quando Adão pecou e escondeu é que Deus pergunta e questiona onde estamos.
v.4 – Profetiza – A palavra profética era como a palavra de Deus por ocasião da criação. O que Deus está ordenando é que nova vida seja criada a partir de sua palavra.
v.7 – … então profetizei segundo me fora ordenado – imaginem a cena de um homem, no meio de um vale cheio de ossos secos abrindo sua boca para conversar com esses ossos – seria considerado um louco.
v.9 – … assopra – isto nos faz lembrar da maneira como Deus deu vida a Adão, soprando-lhes na narina – a palavra ESPÍRITO, SOPRO E VENTO, aqui neste texto em hebraico é uma tradução que vem de um mesmo termo e que em português foi necessário fazer este “intercâmbio” para que haja entendimento – é uma clara referência ao sopro criador de vida de Deus.
v.11 – … pereceu a nossa esperança – muitos sentem-se assim hoje em dia no meio da Igreja, secos, sem esperança, diante de ossos tão secos que não vêm como pode haver mudança. Me sinto assim muitas vezes. É nessas horas que precisamos OUVIR Deus.
v.12 – … abrirei a vossa sepultura – a visão que Deus está dando para Ezequiel começa com um vale cheio de ossos secos, mas amplia-se a ação da profecia de Deus e até aqueles ossos apodrecidos, quem sabe já em forma de pó é atingida pela visão de Deus – Deus amplia a visão e a maneira como vai agir.
Mas o que tem isso a ver conosco hoje?
Deus mesmo compara esse vale de ossos secos com o seu povo – v. 11. Exilados, com dificulades, sem esperança, secos, longe de casa, sem dinheiro, escravos, sozinhos, deprimidos … o povo de Deus encontrava-se como um montão de ossos secos – é assim que nos sentimos muitas vezes, pelo menos eu me sinto às vezes.
Entretanto no capítulo 37 Deus está aqui entrando em diálogo com Ezequiel. E este é um momento em que os céus param. Quando Deus, Todo Poderoso, olha nos olhos de um homem e entra em diálogo com ele. A pergunta de Deus a Ezequiel não é primariamente a respeito de ossos e vales, mas sim sobre a louca, humanamente insana, possibilidade de o impossível acontecer. Adoro esta parte.
E a resposta de Ezequiel, embriagado com a pessoa de Deus, foi: “Senhor tu o sabes”. Em outras palavras ele estaria afirmando: Eu não tenho uma revelação sobre isto; não sei como acabará, não tenho poder para resolver e não posso me responsabilizar sobre o que isto acarretará, mas se o Senhor crê eu também creio que ressuscitarão.
Ao dissertar sobre o caráter cristão, nossa posição diante de Deus e dos homens, daquilo que somos em Cristo, até onde vai nosso compromisso, bem como sobre a intervenção de Deus em meio às crises pelas quais passamos, quero lhe mostrar justamente que Deus, soberanamente, dirige nossos passos para que entremos em consonância com Ele mesmo.
O escritor de Hebreus, no capítulo 12, trás para nós algo tremendamente sério, ao afirmar que “as coisas não abaladas permanecerão” (Hb 12:27). O que é abalável, quando Deus resolve balançar as coisas não permanecem, são abaladas e devem sair de cena. O escritor trata então do que não pode ser abalado – que é justamente o “reino inabalável” de nosso Deus, pois nossas vidas, o reino, seus planos e o cumprimento delas estão baseadas não em como nós enxergamos, ou de acordo com o que arquitetamos, mas sim, na pessoa do nosso Deus. Depreendemos daí que tudo o que não é do reino inabalável em nós, certamente não permanecerá – só o que for baseado em Deus fica, o resto sai de cena, cai!
Então podemos entender que ante a sequidão, ante os problemas, ante qualquer coisa que pareça impossível aos nossos olhos, é necessário munir nossa vida da visão de Deus a respeito de qualquer assunto – mesmo que não saibamos o que vai ser, pois ele pode transformar um vale de ossos secos em lugar de vida e prosperidade.
É de Deus a PALAVRA PROFÉTICA e não nossa; é dele o SOPRO DE VIDA e não de nossas obras.
A partir disso então saberemos que “o Senhor disse isto e o fez” (v. 14).