Tenho pensado muito sobre ESPERAR. Sempre que falo sobre isso, penso em algumas coisas, dentre ela a ESPERANÇA. O sentido positivo da espera é o objeto da sua espera, o alvo, a esperança de chegar lá. Entre esse chegar lá e o ainda não estar lá há um fator tão forte que chamamos de ANSIEDADE. A espera não concretizada gera uma ansiedade e há pelo menos dois tipos dela: uma comum, normal e outra que é neurótica.
A ansiedade comum é derivada de situações em que o objeto da espera que a gera é algo importante, mas que não abalaria nosso mundo inteiro se não acontecesse ou mesmo se acontecesse alguma coisa errada. Por exemplo: você fará uma prova e não sabe ainda do resultado porque não a fez, mas mesmo que a faça e não se dê bem, a ansiedade pelo resultado é frustrante, porém passa, porque ainda podemos fazer outra prova ou mesmo que não se possa, há sempre outras situações pela frente. A espera de um dia importante chegar, a espera de um resultado, a espera da chegada de alguém… Todas estas ansiedades são comuns e normais, não nos adoecem.
Porém, existem ansiedades que são neuróticas e a essa precisamos dedicar tempo para cura, para melhora, para entendimento, para estudarmos e nos conhecermos de maneira mais profunda para que ela não nos domine e nem tome conta de nossa existência. Algumas esperas ansiosas neuróticas podem destruir ou mesmo abalar seriamente indivíduos.
A ansiedade neurótica ameaça nosso ‘ego’ (self). Quando sofremos com ansiedade e ela se prolonga nosso corpo fica frágil e exposto a doenças psicossomáticas. Os órgãos internos, ameaçados pela não capacidade de controle acabam se voltando uns contra os outros, tanto que Freud afirmava que quase todas as neuroses e outras perturbações da vida humana têm raízes na ansiedade. A ansiedade é talvez a maior força destruidora da saúde e do bem estar.
Viver de maneira ansiosa é deixar de notar e saber que papel devemos assumir diante das situações que se nos acometem – parece que sempre falta alguma coisa pra que possamos assumir nosso próprio papel em nossa própria história.
Quando o medo diante da vida, das escolhas ou mesmo das necessidades e faltas assume uma proporção que começa a atingir toda a existência a ansiedade então toma conta de nós, então, diante desse quadro nossa existência passa a ser ameaçada.
Shakespeare dizia que os perigos que enfrentamos no presente são menores que a previsão do futuro.
Muitas destas ansiedades estão no nível da consciência, olhamos, enxergamos e vemos aquilo que nos aflige, mas a maioria das ansiedades que são neuróticas estão em estágios inconscientes ou pré-conscientes.
A ansiedade é algo que ainda nos dá condições de pensar que existe solução para o problema que enfrentamos, ou mesmo, enquanto houver ansiedade, há possibilidades ainda de luta contra a ameaça que quer nos atingir.
Rollo May afirma:
“Esta confusão referente a quem somos e o que deveríamos fazer é o aspecto mais penoso da ansiedade. Mas existe um lado positivo: assim como a ansiedade destrói a consciência de nós mesmos, esta pode destruir a ansiedade. Isto é, quando mais forte a consciência, de nós mesmos, tanto melhor podemos lugar e vencer a ansiedade. Esta é um sinal de luta interior. Assim como a febre é sintoma de que o corpo está mobilizando as forças físicas para combater uma infecção, por exemplos os bacilos da tuberculose, a ansiedade é prova da existência de um conflito psicológico ou espiritual”.
Ele ainda fala:
“Há esperança para um paciente de tuberculose enquanto ele tiver febre; mas nos estágios finais da doença, quando o corpo cede, por assim dizer, a febre desaparece e em breve o paciente morre. A única coisa que significaria perder a esperança de vencer nossas presentes dificuldades, como indivíduos […] seria a queda na apatia, o fracasso no sentir e enfrentar de maneira construtiva a ansiedade”.
Esse é o perígo que sempre nos acerca – de, diante das situações ou circunstâncias que nos mantém presos à uma vida que não retrata nosso ser, nossa consciência, não viver de modo autêntico, negar a nós mesmos o direito de ser felizes, negar que podemos e devemos lutar contra aquilo que nos assedia tão de perto, dentro de nossas almas, quando o medo toma conta de nós de tal forma que desanimamos e não vemos mais saídas, e então a apatia vem, o medo transforma-se em conformidade e nessa conformidade apenas nos tornamos aquilo que o medo diz de nós – afugentamos a vida e abraçamos a mesmice, o dia da rotina, a conformação e o coração então para de sonhar, de desejar e apenas deixamos tudo como está, porque é muito difícil lutar, parece não haver saída, parece não haver o que dizer, parece não haver o que fazer.
Enquanto o conflito persistir, enquanto a ansiedade ainda dominar e coração acelerado bater forte diante da vida é porque esta ainda está pulsando e, portanto, há esperança. É preciso encontrar meios de reforçar nosso conhecimento de nós mesmos, nos tornarmos cada vez mais autoconscientes, auto perceptivos e encontrar forças dentro de nós que nos permitam congregar em nossa própria existência e retirar de nosso caminho a confusão.
Esse não enfrentamento, do medo, da tristeza é algo que tira de nós a realidade e inaugura dentro de nós e ao nosso redor uma vida falsa.
Pedro Leite Machado (psicólogo) diz que:
“Ao invés de tentar compreender nossa tristeza, tentamos a todo custo disfarçá-la e sufocá-la, não nos permitindo a essa experiência humana. Quando encaramos a tristeza como sinal de fraqueza ou desadaptação, preferimos maquiar nossas emoções com comportamentos aceitos socialmente, onde tudo tem que parecer estar sempre bem e os sorrisos nunca podem faltar em nosso semblante. Ao invés de viver numa farsa, permita-se viver sua tristeza, pois ficar triste não é um erro ou sinal de fraqueza, ela é uma necessidade passageira desse nosso jeito humano de ser”.
Viver a vida concretamente é viver com enfrentamento. Encarar o medo, a tristeza e a ansiedade que são gerados muitas vezes por processos de espera, espera longa de situações ou necessidades ainda não supridas.
Não disfarçar, mas alcançar um estágio pessoal onde dizemos onde e quando está doendo, assumindo nosso lado de medo, nossa ansiedade diante da vida, sem viver com maquiagens desnecessárias, sem disfarçar com comportamentos aceitos socialmente, onde tudo na vida parece ser a vida de um comercial de margarina na TV – tudo é “perfeito” e encaixa-se perfeitamente.
Permita-se viver a vida como ela é, somente assim poderá caminhar em direção à realização e nesse meio tempo, enquanto caminha, descobrirá que aí está a felicidade.