Alguns dizem que devemos cuidar da pessoas mais do que pregar a elas. Outros dizem que devemos pregar aos outros mais que cuidar delas. Os primeiro argumentam que a ação social pode levar à transformação e salvação. Os segundo argumentam que a pregação tem primazia.
E Jesus? O que ele pensava disso? O que seus apóstolos ou mesmo os escritores do Novo Testamento pensavam a respeito?
Como exemplo, tomo um versículo de Atos, onde Lucas expõe seu pensamento sobre a Igreja e sobre Jesus.
Em Atos 1.1 Lucas se utiliza de um molde textual com as palavras “começou”, “fazer” e “ensinar”. Quem faz exegese no grego do NT entende que estas expressões não podem ser mudadas nem mesmo de lugar na frase por causa do “e” (‘te kai’) que une estes verbos no versículo 1 e faz com que a posição destes dois termos não sejam mudados. Ramsay crê que a posição dos verbos (fazer vindo antes de ensinar) é uma estrutura emítica onde o contrário seria danoso ao texto. Sendo assim podemos ver que Lucas aqui estabelece um modelo ao redor da pessoa de Jesus mostrando que Ele primeiramente ‘fazia’ antes de ‘ensinar’, que sua vida precedia sua doutrina, que seu caráter homologava sua teologia. Entender que a ação (martiria) pode ser dissociada da pregação (kerygma) é fazer do evangelho de Jesus uma muleta e falar aquilo que a Bíblia não diz. Nossa vida (ações em relação a Deus, a nós mesmo e aos outros) precisa preceder ao que pregamos, porque senão seremos considerados como aqueles que pregam o que não vivem. Jesus nunca fez isso e Lucas entendeu que esse molde da vida de Cristo deveria ser o molde de vida da igreja, por isso ele dá continuidade ao livro do Evangelho de Lucas trazendo esta conexão.
Pregar o evangelho sem ter interesse no ser humano integral é tão danoso quando ter apenas interesse no ser humano socialmente sem levar a ele o evangelho de Jesus.
Não prercisamos usar muletas. Precisamos andar com os dois pés.