Obras da carne versus fruto do Espírito: um olhar para a teologia do mundo, da carne e do diabo baseado em Gálatas 5 – parte 3
Este material foi escrito e baseado em obras de Hendriksen, de Adam Clarke, Aristóteles, Albert Barnes e Edith Hamilton
Vimos o percurso da carne e como se manifesta, além de entendermos um pouco melhor sobre a mortificação necessária para que a vida de Cristo se desenvolva em nós.
O recurso final, porém, o fruto do Espírito, é nos dado por Deus como um bem mais precioso – não somente para nossa luta contra a carne, mas para que a própria imagem de Cristo seja formada em nós.
Talvez possamos dividir estes nove preciosos dons em três grupos, perfazendo três frutos a cada grupo. Se este for o correto — de forma alguma se tem certeza! — o primeiro grupo estaria referindo-se às qualidades espirituais mais básicas: amor, alegria, paz. O segundo grupo indicaria aquelas virtudes que se manifestam nas relações sociais. Pressupomos que considera os crentes em seus diversos contatos uns com os outros e com aqueles que não pertencem à comunidade cristã: longanimidade, benignidade, bondade. No último grupo, se bem que aqui há bastante espaço para divergência de opinião, o primeiro fruto poderia referir-se à relação dos crentes com Deus e sua vontade revelada na Bíblia: fidelidade ou lealdade. O segundo, presume-se, teria a ver com seu contato com os homens: mansidão. O último, à relação que cada crente tem consigo mesmo, ou seja, com seus próprios desejos e paixões: domínio próprio. (Hendriksen)
Vamos dividir como ele sugere:
CONSIGO MESMO – Grupo 1 – AMOR – ALEGRIA – PAZ (Qualidades básicas de uma pessoa Espiritual)
Amor – Agape – É a fonte originária de todos os demais. Um desejo intenso de agradar a Deus, e para fazer o bem à humanidade; a própria alma e espírito de toda verdadeira religião; o cumprimento da lei, e que dá energia à própria fé. Veja Gálatas 5:6.
Alegria – Chara – É a felicidade. Vem da mesma raiz charis, de onde vem a palavra graça. A exultação que emerge de um senso da misericórdia de Deus comunicada à alma no perdão de suas iniqüidades, e o prospecto daquela glória eterna da qual ele teve o antegozo no perdão dos pecados. Veja Romanos 5:2.
Paz – Eirene – A calma, sossego e ordem que tomam lugar na alma justificada, ao invés de dúvidas, temores, alarmes e terríveis apreensões, que todo verdadeiro penitente sente mais ou menos, e deve sentir até que a certeza do perdão traga paz e satisfação à mente. Paz é o primeiro fruto que se percebe após o perdão do pecado. Veja Romanos 5:1. (Adam Clarke)
COM OUTROS – Grupo 2 – LONGANIMIDADE – BENIGINIDADE – BONDADE (Virtudes demonstradas nas relações sociais de alguém Espiritual)
Longanimidade – Makrothumia – Ânimo longo (paciência prolongada para com os pecados de outros – como Deus que tolera pacientemente as iniqüidades e não se deixa arrebatar por explosões de ira e furor). Tolerância, suportando as implicações e provocações dos outros, a partir da consideração de que Deus tem sido longânimo para com as nossas; e que, se Ele não tivesse sido, já teríamos sido prontamente consumados: suportando também todas as tribulações e dificuldades da vida sem murmurar ou reclamar; submetendo alegremente a toda dispensação da providência de Deus, e assim, derivando benefício de todo acontecimento.
Benignidade – Chrestotes – Gentileza, bondade, delicadeza, afabilidade e também excelência de caráter, honestidade; uma graça muito rara, freqüentemente ausente em muitos que têm uma porção considerável da excelência cristã. Uma boa educação e maneiras polidas, quando trazidas sob a influência da graça de Deus, trarão esta graça com grande efeito.
Bondade – Agathosune – Retidão, prosperidade, gentileza. O desejo perpétuo e estudo sincero, não só de abster-se de toda aparência do mal, mas de fazer o bem aos corpos e almas dos homens ao extremo da nossa capacidade. Mas tudo isso deve fluir de um coração bom – um coração purificado pelo Espírito de Deus; e então, a árvore sendo feito boa, o fruto deve ser bom também. (Adam Clarke)
COM DEUS, COM OUTROS E CONSIGO MESMO – Grupo 3 – FIDELIDADE – MANSIDÃO – DOMÍNIO PRÓPRIO (Qualidades na relação com Deus, com outros e consigo mesmo de uma pessoa Espiritual)
Fé – Pistis – Aqui usado para fidelidade, pode significar tanto confiança quanto fidelidade – pontualidade no cumprimento de promessas, cuidado consciente em preservar aquilo que é comprometido à nossa confiança, em restaurá-lo ao seu devido proprietário, em manejar o negócio nos confiado, nem trair o segredo de nosso amigo, nem desapontar a confiança de nosso patrão. (Adam Clarke)
Fé não é simples crença. A crença é passiva. A fé é ativa. É uma visão que inevitavelmente passa à ação. (Edith Hamilton)
Sobre o significado da palavra fé, veja a nota em Marcos 16:16. A palavra aqui pode ser usada no sentido de fidelidade, e pode denotar que o cristão será um homem fiel, um homem fiel em sua palavra e promessas; um homem confiável ou em quem se pode confiar. É provável que a palavra seja usada nesse sentido, pois o objetivo do apóstolo não é falar dos sentimentos que temos para com Deus, mas sim o de ilustrar as influências do Espírito em dirigir e controlar nossos sentimentos para com as pessoas. A verdadeira religião produz um homem fiel. O cristão é fiel como um homem; fiel como um vizinho, amigo, pai, marido, filho. Ele é fiel em seus contratos; fiel às suas promessas. Nenhum homem que não seja fiel assim pode ser um cristão, e todas as pretensões de se estar sob as influências do Espírito quando tal fidelidade não existe são enganosas e vãs. (Albert Barnes)
Mansidão – Prautes – Placidez, modéstia, gentileza, cortesia, brandura, indulgência para com o fraco e errante, sofrimento paciente de injúrias sem sentir um espírito de vingança, um equilíbrio de todos os temperamentos e paixões, o contrário completo da ira.
Tem que se levar em conta o contexto negativo, pois pode ser levada a transformar-se em auto-depreciação. Quando é fruto do Espírito não nos leva a isso.
Domínio Próprio ou Temperança – Egkrateia – Autocontrole, autodisciplina, continência, domínio próprio, principalmente com respeito aos apetites sensuais ou animais. Moderação no comer, beber, dormir, etc. (Adam Clarke)
Considero mais corajoso aquele que domina os seus próprios desejos do que aquele que domina seus inimigos; pois a vitória mais difícil é a vitória sobre o próprio eu. (Aristóteles)
Domínio Próprio é uma relação que alguém mantém consigo mesmo. A pessoa que tem a bênção de possuir esta qualidade possui “o poder de conter-se a si mesma”, que é o sentido do termo usado no original. O fato de terem sido mencionadas previamente, entre os vícios enumerados (v. 19), a imoralidade, a impureza e a indecência, revela que era apropriado mencionar o domínio próprio como a virtude oposta. Fica claro que aqui temos referência a muito mais coisas que simplesmente a sexo. Aqueles que realmente exercem esta virtude levam todo o pensamento à submissão e obediência a Cristo (2 Coríntios 10:5). (Hendriksen)
O fruto do Espírito é colocado em contraste com as obras que produzimos – da carne. Uma obra consiste em algo que o ser humano pode fazer. O fruto é uma ação nascida da atuação do Espírito Santo na vida do crente – por isso é fruto do Espírito.
A questão aqui se resume no texto que Paulo escreve aos Efésios, capítulo 3 do versículo 14 ao 19.
14 Por esta causa, me ponho de joelhos diante do Pai, 15 de quem toma o nome toda família, tanto no céu como sobre a terra, 16 para que, segundo a riqueza da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior; 17 e, assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé, estando vós arraigados e alicerçados em amor, 18 a fim de poderdes compreender, com todos os santos, qual é a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade 19 e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus.
Deus está, através do fruto do Espírito em nós, transformando-nos em pessoas mais parecidas com Jesus, e esta é a grande verdade da luta – lutamos não apenas contra nossa vontade própria, mas também lutamos a favor da vontade própria de Deus em Cristo, e assim seremos, de glória em glória, de vitória em vitória, mais aproximados do que Deus quer de nós – homens e mulheres que se pareçam cada vez mais com a imagem do seu filho Jesus. Deus quer mais pessoas como Jesus em seu reino, ao seu lado.
Deus nos abençoe.
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Publicado na coluna semanal “Teologia para sobreviventes” no site www.irmaos.com