“Agora que fomos declarados justos por Deus, por causa da fé, podemos ter tranqüilidade de consciência por causa de Jesus, pois, foi por causa dele que temos acesso a este tipo de vida cheia de graça e é por causa desta graça de Deus que nos mantemos firmes e, assim, confiantes e alegres esperamos ansiosos pela transformação que Deus faz e fará em nós” Romanos 5 (tradução livre do autor).
A salvação parece ser desenvolvida por Deus através das provações e isto é algo que não passa corretamente pelos nossos sentimentos, pois em meio aos sofrimentos e provações perdemos grande parte de nossa percepção – o que dirá da nossa teologia, pois o que queremos é ser confortados pela “prosperidade” que gasta nossos ouvidos e corações com movimentos sensacionalistas, onde parece ser tudo permitido, desde que resulte em glória para mim mesmo.
Assim eu pergunto: porque Deus perde tempo conosco? Porque o Senhor gasta do seu poder e tempo com vidas como a minha e a sua? Sou salvo! E daí?! O que fazemos com isso? Que é a salvação de verdade? Apenas uma libertação de nossas almas? Por que muitos de nós se encontram sempre entristecidos e parece que dando apenas passos para trás? Por que parece que as dificuldades são sempre repetidas e nunca vão embora? O que a salvação – que é algo que Jesus já fez e pagou todo o preço na cruz – tem a ver com minhas provações e meus sofrimentos?
Gostaria de tecer algumas pistas que podem nos ajudar a entender um pouco mais sobre nossa salvação e como é que Deus desenvolve isso em nós.
No v.1 (Romanos 5) o autor utiliza a palavra justificados que tem o significado literal de ser declarado sem culpa, transformados em justos. Saibamos, porém, que:
a. Foi Deus que nos declarou justificados (justos, sem culpa);
b. Essa declaração não dependeu de nós (foi feita no passado, na cruz);
c. Foi realizada por meio de Jesus (encarnação, morte e ressurreição completam o quadro de Deus sobre isso);
d. Foi trazida a nós pela fé em Cristo (e por meio de Cristo!)
O termo aqui enfatiza que Cristo imputou (essa palavra técnica na teologia quer dizer que ele colocou sobre nós) uma justiça que não temos e disse para Deus “está tudo certo” em relação ao fato de sermos pecadores condenados. Cristo, ao imputar esta justiça (do seu sangue) não nos isenta do pecado, mas, sim,paga o preço pelos nossos pecados, tornando-se maldito em nosso lugar e assim aplicando a justiça que pede a morte do pecador sobre si mesmo; ele, mesmo sem pecado, toma nosso lugar para morrer nossa morte para que vivamos sua vida.
Essa imputação de justiça é algo que é feito em nós e não que nós fazemos ou determinamos com nossos atos – antes, Paulo afirma categoricamente que Jesus“foi entregue por causa de nossas transgressões (4.25). Éramos transgressores (transgredir a lei de Deus em um só ato nos torna culpados de todos) e aqueles que transgridem precisam pagar o preço pelos seus erros – Cristo morreu e ressuscitou justamente para fazer isso por nós – nos JUSTIFICAR, imputar, colocar sobre nós uma justiça que não tínhamos (mas que ele tem!).
Essa justificação foi mediante a fé, ou seja, é procedente da fé. Ora, se procede da fé tem relação com alguma obra que faço? É algo que eu tenho e que dou pra Deus? O que é a fé que justifica? Como ela se dá em nós?
Os crentes de Éfeso estavam com esta dúvida e Paulo escreve para eles dizendo que a salvação é pela graça que procede da fé – mas explica concretamente: a fé é um DOM (“Pela graça sois salvos, mediante a fé e isso não vem de vós, é dom de Deus – Efésios 2.8) de Deus, e não vem de nós – assim como a justificação, que é algo feito pelo Senhor Jesus na cruz, a fé, que é o instrumento pelo qual eu tomo posse da justificação me tornando salvo em Cristo Jesus, é um DOM. É Deus quem coloca em meu coração, não há merecimento – eu respondo à fé que ele coloca em meu coração, mas a glória é de Deus e não minha. Chegamos a Deus de mãos vazias, podemos e devemos estender nossas mãos vazias para receber de Deus esta fé que abre o caminho para a salvação – e isso é graça de Deus.
Paulo, em sua carta aos Romanos 11.6, diz: “Se é pela graça (falando da salvação), já não é pelas obras; do contrário a graça já não é graça”. Muito equivocadamente pensamos que a fé que pode gerar a resposta SIM para Deus é algo que tenho e dou pra Deus e ainda objetamos que isso não é OBRA. Bem, se é meu e eu faço é obra. Se é obra não é graça e sem graça, pela fé, gerada por Deus em nosso coração, não há salvação.
A fé não é a causa da justificação, não é a fé que justifica e declara sem culpa – isso é Deus que faz – mas ele usa a fé para trazer sobre nós esta graça. A fé, que é dom, presente imerecido, é o instrumento que Deus utiliza para gerar em nós esta declaração de que somos justos.
a. A fé vem de Deus – é dom;
b. É a resposta do ser humano (nossas mãos vazias) para Deus;
c. É o instrumento que Deus usa para nos fazer tomar posse da graça (ele nos dá o presente e enche nosso coração com seu amor e fé);
“Porque pela graça sois salvos, mediante a fé, e isto não vem de vós é dom de Deus, não de obras para que ninguém se glorie.” (Efésios 2.8,9)
Assim, mediante a fé temos paz com Deus – literalmente temos uma consciência tranqüila serena; paz de espírito.
Esse é o assunto da continuação deste artigo.
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Publicado na coluna semanal “Teologia para sobreviventes” no site www.irmaos.com