Muito se fala e pouco se explica dessa “prática” religiosa e por ser religiosa sempre que se fala sobre jugo desigual pensa-se religiosamente.
Estar em jugo desigual (originalmente refere-se a uma canga colocada em animais para ou puxar um arado ou fazer serviços na agricultura, onde dois animais treinados e com o mesmo porte e propósito conseguem puxar o arado ou a carroça e fazer o serviço sem impedimentos) não é algo RELIGIOSO, mas de formação humana, de propósito de vida e de visão (cosmovisão) de como se enxerga os caminhos, a vida, as pessoas, a si mesmo e aos outros, principalmente nesse caso – o Outro.
Jugo desigual não é ter uma “fé” diferente, não é pertencer a uma “comunidade de fé diferente do outro”. Esse jugo pode ser muito bem com duas pessoas que caminham com o mesmo tipo de fé. Só pode ser medido a partir do AMOR. O amor precisa ser o prumo para medir e também o ambiente onde tudo é nivelado, colocado de forma correta e que faça sentido. Insistir num relacionamento onde o jugo é desigual é ruína na certa. Se não for através de um “escândalo” externo, será através de um morrer interno diário, onde a vida vai passando de alegria e descoberta em conformismo e passividade.
Muitos casamentos acontecem mais por causa das “circunstâncias que envolvem” do que pelo outro necessariamente. Às vezes se casa por causa da família, ou para formar-se uma família. É um bom propósito, mas não sustenta uma união a dois coerentemente.
Às vezes se casa porque a pessoa do outro lado é uma boa pessoa, agradável, ou tem dinheiro, é reponsável, ou ainda porque a família gosta dele ou dela. Vai então acostumando-se com o outro, namora, se casa e começam então a viver uma vida em comum, a ter e enfrentar problemas e de repente enxerga-se que caminham para lados diferentes, tem propósitos diferentes na vida e enxergam tudo de um ponto de vista que não é o do outro.
Nessa hora o parceiro que tem mais a perder se cala, se conforma e entra numa passividade total, onde anula-se (num gesto que interpreta como cristão …) e vive uma vida interna miserável por causa de uma estrutura familiar falida e sem sentido.
Se eu ganhasse 1 real toda vez que encontro uma pessoa assim, já seria rico.
O processo se dá quando começamos a conhecer verdadeiramente o outro (e também a nós mesmos). Tentamos em vão “mudar” o outro e não conseguimos, então mudamos a nós mesmos.
Estes, estão em jugo desigual …
Se você não ama, não case. Amar é muito mais que estar apaixonado. Amar é CONHECER, é saber que esse outro ou outra terão defeitos, mas existe algo na sua essência que te faz bem e te complementa como pessoa. ser COMPLEMENTADO como pessoa é muito mais importante que ser completo com dinheiro, bens, estrutura social, eventos, amigos, festas em família e tudo mais. Todo o resto, a estrutura, é complementar, mas o que há de pessoalidade é VIDA e portanto não há vida na estrutura pura e simples, só há vida quando ela brota dentro de nós.
Num casamento onde não há jugo desigual não é isento de problemas, mas consegue-se conversar sobre tudo, presente, passado ou futuro, há sinceridade, enxergam a vida e os caminhos do mesmo ponto de vista, querem chegar no mesmo lugar de realização pessoal, compreendem um ao outro sem que haja necessidade de muitas explicações ou palavras, conhecem-se a si mesmos e ao outro com profundidade, não há limites para as conversas, para o abrir do coração, as dores são compartilhadas, os momentos de fraqueza não são passados em puro silêncio, as dúvidas são exercidas e há uma cumplicidade com a vida que tudo passa a fazer sentido real apenas quando faz sentido real para os dois.
Sexo, dinheiro, família, filhos … isso qualquer um pode ter (ou não), mas essa intimidade profunda pertence apenas aqueles que se abrem, que estão dispostos a sofrer as dores da descamação, do retirar das máscaras diante do outro. Uma vida estrutural que é o que muitos vivem hoje em dia não é casamento, mas conveniência, aparência e adoecimento. Uma prisão horrível.
A vida ao lado de alguém a quem não se ama de acordo com a proposta de amor dentro da conjugalidade, é um inferno pessoal intransponível.
Você pode até conformar-se com o deserto, mas esse não é o lugar de moradia de nossa alma.
Sem esse amor que nivela, nada aproveita. Os maiores sacrifícios são em vão e a vida não vale a pena.
Para evangélicos, porém, esse tipo de “conversa” é absurda …
Como diz o Caio Fábio (em quem foi ‘inspirado” este post) o evangelho para estes não é uma boa nova, mas uma velha prisão.