“Põe-te de pé, e falarei contigo”
Ezequiel 2:1
Sempre há uma condição a ser obedecida por quem ouve o Senhor. Moisés teve que tirar suas sandálias; Josué levantou-se de madrugada para purificar a si e o povo para a guerra; Isaías teve seus lábios tocados por uma brasa para poder gritar: Eis-me aqui.
No texto acima, vemos que a Ezequiel é dito que se coloque de pé para ouvir o Senhor! Justamente neste ponto é que se dá a chamada ministerial de Ezequiel.
Muitas vezes, penso no caráter de minha chamada ministerial e algumas vezes chego a pensar que não entendo muito bem o PORQUÊ do Senhor querer nos usar. Como com Ezequiel, poderemos sentir o poder do Senhor, que nos capacitará para a obra que nos dá – “entrou em mim o Espírito” (v.2); saberemos muito bem a quem levar a mensagem do Senhor – “eu te envio aos…” (v.3); podemos ainda perceber o quão difícil é para o homem aceitar esta mensagem – “são de duro semblante, e obstinado coração” (v.4a) e apesar disto temos que confrontar este mal que lhes retira da presença do Senhor com o “assim diz o Senhor Deus” (v.4b); algumas vezes não importa se haverá “sucesso” do ponto de vista humano – “quer ouçam, quer deixem de ouvir” (v.5)…
Para o Senhor porém, o que importa mesmo é que tenhamos esta disposição para nos colocar em pé para ouvi-lo e obedecê-lo, pois, no final da história daqueles para o qual fomos chamados a testemunhar irão, como todos nós comparecer perante o Senhor e, mesmo que for somente lá, perante o Trono do Juiz “hão de saber que esteve no meio deles um profeta” (v.5b).
Tenho um amigo que é missionário entre os Yanomamis, no norte da Amazônia e que atua pela Missão Novas Tribos do Brasil; hoje, eles passaram 6 anos no meio deste povo (ele, esposa e filha); debilitaram sua saúde, suas mentes, sua filha sofreu com adaptação ao extremo (teve que ser retirada da aldeia por um tempo, pois, estava começando a querer viver somente como os nativos viviam, esquecendo sua cultura, o que pode resultar na perda da identidade cultural por parte da criança!) e durante este tempo, eles – SEM DÚVIDA – disseram aos Yanomamis: “Assim diz o Senhor”.
Diante de povos como Yanomamis, Konkombas, Asmats, Bérberes… e milhares de outros nossa atitude tem sido – falo pensando na Igreja Evangélica Brasileira – a de ouvir estatísticas, nos assustarmos ao ouvir das aventuras dos missionários, lembrarmos destes mesmos missionários em nossas ofertas alçadas uma vez por ano e no restante de nosso tempo não temos nos colocado de pé, para que o Senhor possa falar conosco; continuamos assentados e o que é ainda pior, de braços cruzados.
Em uma carta recente de Ronaldo para Igrejas no Brasil, ele conta que estava indo para uma região não alcançada visitar um povo que ainda não tinha sido visto por mais ninguém, consequentemente o evangelho também permanecia longe dali. Depois de ver o povo, andar no meio de suas aldeias, conversar com alguns e certamente amá-los, ele diz: “A expressão ‘não alcançada’ não tem força suficiente para descrever o quanto esta gente está em trevas!”
Atentos à voz do mundo que dita nossa maneira de vestir, falar e agir, com modismos extravagantes e na maioria das vezes inúteis, seguimos tudo, sem questionar de onde vem ou mesmo para que serve tal novidade; o problema é que estamos tão atentos ao que o mundo diz que não conseguimos ouvir o Senhor que declara diretamente para cada um de nós:
“Filho do homem, põe-te em pé, e falarei contigo”
Artigo publicado no Jornal Fronteiras – O Desafio Transcultural – Ano 4 – nº 11 – Fevereiro/96
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