“A quem enviarei e quem há de ir por nós?”
Is 6:8
Quem ouvisse aqueles hinos cantados na língua Konkomba-Kotokoli imaginaria, certamente, que aqueles homens, mulheres e crianças há muito tinham ouvido de cristo e que a Igreja entre eles já era uma Igreja forte, estruturada… Não imaginaria que há apenas alguns meses se passaram desde que ouviram do Senhor e de sua Salvação pela primeira vez em suas vidas e que em um afã de serem resgatados das mãos do inimigo entregaram-se para o Senhor. Neste culto, realizado embaixo de uma grande árvore fetiche, 66 Konkombas vieram a Cristo.
Terminado o culto, presenciei algo que mexeu ainda mais com meu coração: uma pequena mulher, paraplégica, veio arrastando-se (literalmente!) para perguntar se havia chegado tarde demais para se colocar ao lado de Jesus, pois, ela já ouvira a mensagem e queria ser salva por este Senhor! Depois de orarmos por ela e ficarmos com nosso coração alegre por mais uma pessoa – agora 67 – ter sido resgatada do poder do inimigo, soubemos que mais cedo, antes do culto ela desejou vir até onde estávamos reunidos, mas por pertencer a um clã não Konkomba, ninguém a trouxe e o fato de ser ela paraplégica não a impediu: veio arrastando-se de sua casa, do outro lado da aldeia, até o local do culto – quase dois quilômetros. Nada ficou entre essa mulher e a Salvação; ela estava disposta a ir em qualquer lugar, fazer qualquer coisa para ter Jesus!
Isto me fez questionar: E nós? Até onde estamos dispostos a ir por Jesus?
Ficamos em nossas casas, orando, pensando em missionários espalhados por etnias não alcançadas ao redor do mundo, no meio das matas, nos desertos escaldantes, em montanhas, sentados embaixo de árvores, andando em trilhas escondidas, ouvindo línguas nunca antes ouvidas por nenhum estrangeiro, mas sinceramente, nem sequer imaginamos o que é preciso para se estar lá, para viver no meio de um povo com uma cultura muitas vezes invertida, contrária à sua!
O tempo em que estive entre os Konkombas, na aldeia de Koni, no nordeste de Ghana, em 1995, junto com Ronaldo, Rossana e a pequena Vivianne, me fez pensar nestas considerações e Deus trabalhou comigo, mexendo com meus sentimentos, preferências, conceitos e até mesmo com o meu referencial do que é certo ou errado – culturalmente falando!
Olhe a capa desta Revista (Revista Fronteiras – 1995 – referi-me à foto de Vivianne, filha do casal de misionários Ronaldo e Rossana Lidório). Veja lá a foto de uma pequena criança, linda, sadia, com a alegria que só os pequenos podem realmente ter. Eu olhava a Vivianne, nascida em Ghana, longe de toda a sua família e amigos e pensava nas considerações que fiz há pouco: eles, Ronaldo e Rossana estão dispostos a fazer tudo o que for necessário para que o Reino de Deus seja implantado também entre as 23 etnias Konkombas. Eles amam o Senhor mais que suas próprias vidas e estaria dispostos a entregar tudo para o Senhor, se preciso fosse, para que ele plantasse sua Igreja entre os Konkombas – povo muito amado.
Mesmo depois de passar pela experiência do vale da sombra da morte, com a malária fortíssima que trouxe comigo de Ghana (quase fui mais cedo encontrar-me com o Senhor!); mesmo depois de ver o domínio aberto e quase total que Satanás tem daquele povo; apesar de dificuldade na área cultural; apesar de barreiras lingüísticas; apesar de mim mesmo, declaro isto sempre ao Senhor: “Eis-me aqui, envia-me a mim”.
O desafio continua…
Deus ainda pergunta:
“… quem há de ir por nós?”
Artigo publicado no Jornal Fronteiras – O Desafio Transcultural – Ano 3 – nº 10 – Agosto/95
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