O ser humano se desenvolve a partir das várias fontes da sua vida – seja seus fatores genéticos, físicos, heranças psicológicas, educação, ambiente, cultura, família, grupos religiosos etc. Isso sempre resulta na formação da sua cultura, porém, esta pequena célula da cultura, o ser humano individualizado é também um fator transformador desta cultura e pode agir de acordo com todas ou partes destes valores, sentimentos e noções adquiridos inclusive modificando seus caminhos ao longo da vida.
Sua personalidade vem sendo adquirida ou formulada ou formada a partir de vários contextos: o seu habitat, sua cultura e integrados dentro disso o auto conhecimento, seus sentimentos e seu modo de agir, mas não somente isso, pois a espiritualidade, apesar de fazer parte da cultura também é um circulo maior que integra o ser humano fazendo dele um ser integral.
Ao pensar em Gênesis 1.27 enxergamos Deus criando os seres humanos à sua imagem e semelhança, parecidos com Deus – ‘Assim Deus criou os seres humanos; ele os criou parecidos com Deus. Ele os criou homem e mulher’ (BLH). Esta imagem e semelhança deve nos remeter para o fato de Deus ser uma pessoa e ter integralidade dentro do seu ser – fomos (homem e mulher) criados iguais a Deus neste sentido – somos pessoas integrais, com poder de raciocínio, vontade, desejos, sentimentos, agimos, percebemos etc.
A melhor tradução no Antigo Testamento para ‘adám’ (Adão não é um nome próprio, mas sim um termo ‘genérico’ para ser humano) é ser humano – ou ‘indivíduo da espécie humana’, gente, pessoa. No texto de Gênesis 1.27 então, temos a seguinte construção: Deus criou o ser humano (‘criou Deus, pois, o homem’ – ARA) no mesmo versículo então explica qual foi a ‘modalidade’, de que tipo de pessoa está tratando este primeiro termo – ‘macho e fêmea os criou’ (ARC). Os termos são diferentes – primeiro usa-se ‘adám’ (ser humano) e depois ‘zakár’ (macho) e ‘nequebá’ (fêmea). A ênfase então do versículo recai sobre a criação do ser humano (‘adám’), da pessoa e o fato de colocar-se aqui macho e fêmea é apenas ao tipo ou forma que aparenta. Precisamos pensar então na questão do gênero humano e não somente no sexismo que gera a partir dos gêneros macho e fêmea como categorias hierarquicamente definidas feita pela práxis teológica através dos séculos e não por Deus ou pela Bíblia.
Muito tempo se passa e as definições a respeito do ser humano passam necessariamente pela sua forma ou designação funcional hierárquica pois a definição tende a ser biológica (macho e fêmea sexualmente definidos) ou seja, a diferença entre um e outro é que define o que é ser indivíduo, mas o texto em Gênesis mostra o contrário ao definir que Deus criou o ser humano e só então é que infere sua diferenças formais, não de forma binária hierárquica mas como complementaridade.
Luiz Pasquali falando sobre os tipos humanos diz que ‘compete à Psicologia do desenvolvimento humano, à Antropologia, à Sociologia, à Ecologia e outras ciências afins (a Teologia também?) elucidar como estes contextos moldam, modificam e estruturam os tipos humanos’ (1999, p. 32). Ele descreve os critérios utilizados para proceder a análise destas características que forma os tipos humanos divididos em o SER (físico e mental) e as FACULDADES (conhecer, sentir, agir). As várias combinações destas variáveis são analisadas também.
Estas variáveis da formação dos tipos humanos levam suas angústias para cada área em que se situam – se no conhecimento há desordens e dificuldades de ver ordem na realidade que o cerca; se no sentimento as angústias concentram-se no temor do isolamento, na manifestação da solidão e as ações tem angústias que tiram do ser humano a possibilidade de controle da própria vida.
Todas estas angústias e dificuldades citadas acima, nas áreas de convivência e necessidades humanas engendram a má formação da personalidade humana; não são causadoras, mas o pecado que invade a vida e alma do ser humano o coloca naturalmente ao lado do mal – na queda fizemos uma escolha, escolhemos a independência de Deus e assim uma vida que vai na contra mão de sua vontade. Toda a estrutura da personalidade do ser humano então passa por subjetividades muitas vezes não mensuradas por valores concretos.
Agir em diakonia nesse caso é ajudar aqueles que estão ao nosso redor, nossos próximos a encontrarem dentro de suas subjetividades os seus reais valores como seres humanos, resgatando-os da opressão a que são submetidos muitas pelas até mesmo pela religião institucionalizada causando, dentre outras coisas baixa estima, doenças, abandonos e desgraças. Cristo é o supremo exemplo de ação para nossa vida, quando ele andava com os oprimidos e atendia às suas necessidades não simplesmente porque isso era o que precisava ser feito para que os outros o reconhecessem, mas porque este era o propósito da sua vinda, veja:
O Espírito do SENHOR Deus está sobre mim, porque o SENHOR me ungiu para pregar boas-novas aos quebrantados, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos e a pôr em liberdade os algemados; a apregoar o ano aceitável do SENHOR e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar todos os que choram e a pôr sobre os que em Sião estão de luto uma coroa em vez de cinzas, óleo de alegria, em vez de pranto, veste de louvor, em vez de espírito angustiado; a fim de que se chamem carvalhos de justiça, plantados pelo SENHOR para a sua glória (Isaías 61:1-3 – ARA).
Como função do ministério cristão devemos levar a Cristo para que ele cuide destes seres humanos confusos, quebrantados, cativos, algemados, que choram, que estão de luto, que tem o espírito angustiado para a glória dele mesmo.